Em sua obra Racismo e liberdade, o professor Rogério da Palma demonstra como um processo de ruptura macroinstitucional (o fim da escravidão e consequente processo de construção da cidadania negra) teve impacto nas relações interpessoais. Através dessas últimas, fazendeiros brancos, por exemplo, conseguiram restabelecer formas de dependência e controle, mantendo a desigualdade como princípio orientador das interações com negros e negras. Afinal, a intimidade, longe de mitigar a sujeição, pode, ao contrário, reconstruí-la em outros níveis. Não há como pensar a construção e a contestação da liberdade negra, no pós-abolição, sem levar em conta a remodelação do racismo estrutural após o fim da escravidão.