A política se faz com as mãos mergulhadas no sangue e na merda", dizia brutalmente o velho Sartre. A reflexão sobre a política, entretanto, na medida em que pretende contribuir para a construção do conhecimento de uma atividade humana peculiar, deve procurar evitar a intimidade e o convívio duradouro com porcarias. Deve pensar grande. Meu amigo Marco Aurélio Nogueira, leitor atento de Gramsci e de Bobbio, aberto tanto a sugestões de Giddens, de Bauman e de Beck quanto a idéias de Freud e de Habermas, vem repensando há vários anos os complexos problemas da relação entre o Estado e a sociedade. O Estado, atualmente, está em crise: tem desafetos à direita e à esquerda. Marco Aurélio, porém, adverte contra os riscos de um "Estado sem sociedade civil" e também contra os riscos de uma "sociedade civil sem Estado". Nas condições em que nos encontramos, arrastados num processo de mundialização que não corresponde às nossas aspirações, temos, entretanto, a chance de aproveitar importantíssimos avanços técnico-científicos, de promover uma desprovincianização. Por tudo isso, mesmo em plena globalização neoliberal, Marco Aurélio Nogueira recusa a sedução de uma perspectiva catastrofista ou apocalíptica e busca delinear um reformismo democrático radical, para que possamos vir a ter acesso a formas de vida mais justas e mais inteligentes.