"Faltava, em língua portuguesa, um estudo completo sobre a natureza da linguagem religiosa a partir de Wittgenstein. Agora, Marciano Spica supre essa lacuna fornecendo ao leitor um texto de ótima qualidade que analisa cuidadosamente a natureza da linguagem religiosa a partir de Wittgenstein. O livro de Spica cobre o período do Tractatus Logico-philosophicus, um clássico da filosofia contemporânea, e também do pós-Tractatus fornecendo uma visão integral desse tema tão caro a Wittgenstein. Talvez uma boa forma de caracterizar sucintamente a posição de Wittgenstein sobre a natureza da linguagem religiosa é dizer que ele foi, metafisicamente falando, um agnóstico, mas cotidianamente um crente, alguém que lutava pela sua fé. Em outros termos, denunciou os abusos lingüísticos dos teístas, por exemplo cartesianos, que querem provar a existência de um Deus, mas também dos ateístas, por exemplo sartreanos, que querem provar o contrário. Nos termos do Tractatus, há, em ambos, uma tentativa de dizer o que não pode ser dito; nos termos das Investigações, há um entrecruzamento de jogos-de-linguagem científicos, ou seja, de provas e até mesmo de tentativas de demonstrações, com jogos-de-linguagem religiosos onde o importante é, por exemplo, implorar, suplicar etc. Como poderia uma oração (do latim, oratio-onis, uma forma de discurso) não ter senão seus próprios critérios de sentido? Por que precisaria de uma tese filosófica que lhe desse suporte ou de uma teoria científica que lhe emprestasse dignidade? O desrespeito à linguagem religiosa é o resultado da falta de uma compreensão adequada de sua especificidade. Para finalizar, é necessário indicar a importância atual de compreender a natureza da linguagem religiosa, segundo Wittgenstein, tal como ele foi reconstruído por Marciano Spica: pode-se dizer que a sua posição é, hoje, vital para evitar confusões filosóficas que levam tanto a posições religiosas fundamentalistas quanto a visões científicas fundacionistas."