Quando o nome Virginia Woolf é mencionado, a primeira coisa que nos vem à cabeça é que se tratava de uma mulher cujas idéias revolucionaram a forma de pensar as relações de gênero e classe. Muitos porém, lembrarão dela com pesar, como uma figura frágil e atormentada que, a despeito de sua genialidade, decidiu tirar a própria vida. Mas em Nelly Boxall, que serviu a casa dos Woolf por 18 anos, ela inspirou outros sentimentos, além de admiração ou compaixão. Em seu diário, até então desconhecido da maioria dos fãs, Nelly revela uma inesperada faceta da autora. É difícil entender como a mulher que defendia os movimentos trabalhistas e que pregava que as mulheres deveriam lutar por um espaço só para si era a mesma que fazia suas empregadas dividirem um quarto minúsculo, sem conforto. Por outro lado, Nelly reconhece inúmeras vezes o privilégio de estar em meio a artistas e intelectuais, sem negar que essa convivência influenciou sua maneira de enxergar o mundo. Por quase duas décadas, ressentimento e admiração habitaram o mesmo recinto, mostrando quão difícil é ser coerente quando confrontamos ideais e realidade social.