"Moisés sentia a estranha comoção que transtornava os tios. Na cozinha, as mulheres retomavam o silêncio com que, a princípio, o tinham recebido. E as conversas na cavalariça, sendo os dias tão curtos, resultavam mais apressadas. Pouco conseguia que os fregueses falassem sobre o mar. No entanto, ele já se acostumara a servir-se dos próprios pensamentos. Imaginava o dia do encontro com aquele grande azul que se estendia, semelhante a um prado que florisse. A obsessão tomara conta dele como alguém que o tivesse sequestrado. Tudo o que via e ouvia era filtrado, enquadrado na sua perspectiva. Confiava em que os tios o levariam, tarde ou cedo, à Vieira. Não pensava que, com aquela espécie de trabalho, não desfrutavam dos prazeres do verão, quando abundavam os pedidos de cavalos e de carros abertos."