Em tempos tinha tomado gosto à preguiça, até que lhe caiu a responsabilidade de cuidar de um ser, obrigada então a sustentar ambos com múltiplos trabalhos e vivendo toda vida no buraco a que chamou casa. Não que fosse decrépita, mas relembrava-a da desilusão que tinha, agora que a ilusão da vida desaparecia para dar espaço a uma realidade esmagadora e sufocante. Era jovem. Sabia-o, mas não o sentia. Que temia? Nada. Temia-se a si mesma. Um medo que provinha do seu desejo de poder ser mais do que era. Gostava de ultrapassar as amarras do mundo e ir mais além, deixar o corpo para trás e nunca mais ser, nunca mais existir, morrer? Talvez. Desaparecer para sempre deste mundo, toda a consciência que um dia teve simplesmente a desvanecer-se de tudo o que é físico, é o mundo antes de nascermos. Com uma estrutura rigorosa e uma escrita envolvente, por vezes ligeira, outras mais profunda, Guilherme Pires Correia formula neste romance uma história que segue mãe e filho através dos seus (...)