Quanto de mim é uma nuvem é também um convite permanente para um reviramento do olhar. Aqui, as ondas esticam-se para chegar aos pés ou, ali, se diz que, afinal, quem diria, A grama crescendo faz muito barulho. Já repararam nisso? Eu nunca tinha reparado, mas agora que o li, percebi que é mesmo assim. Existe, nestas páginas, uma perturbadora originalidade de pensamento, uma inversão da lógica das coisas, como se o poeta nos estivesse constantemente a convidar olha, olha de novo, talvez não seja bem assim. Tudo isso se prolonga em Estudos teológicos, em Estudos literários, sempre com uma profundidade, vou chamá-la filosófica, à falta de melhor termo, que se estende da primeira à última página. Há aqui um exercício poético de filosofar no fazer da palavra. A palavra espreguiça-se, a palavra pensa, a palavra pergunta. Sente-se alguém que se detém na prática reflexiva da vida, e que convida, muito delicadamente, a fazermos o mesmo. Com ele. Consegue-o, e muito bem. Judite Canha Fernandes