SOU DONA DA MINHA ALMA — O Segredo de Virginia Woolf Poucos anos antes do suicídio, Virginia Woolf tentou deter a própria vida na memória ao invés de escrever sua autobiografia. E logo se deu conta de que o projeto lhe escapava. Afloravam em sua mente impressões de sons e imagens, sensações auditivas e táteis que remontavam à infância. No tocante às recordações, entretanto, era inundada de dúvidas, de incertezas quanto a seu conteúdo de verdade. De todo modo, não eram mais suas: ela as emprestara aos personagens de seus romances. Sua própria vida estava literalmente vertida em sua obra. Assim, deteve-se, desistiu, convencida de que aquilo que recordava não serviria para reconstruir “Virginia”.Somente Nadia Fusini, exímia estudiosa e intérprete da escritora inglesa, podia assumir a tarefa arriscada de escrever não a biografia, mas um longo, erudito e envolvente relato ao vivo, que, como ressarcimento à inexistente autobiografia de Virginia, apresenta a originalíssima invenção de uma escrita da vida como aventura da alma. Fazendo falar o diário, os romances, as cartas e os fragmentos de memórias, recria-se aqui todo o mundo de Virginia Woolf: da Kensington natal, vitoriana e burguesa à vida nova no bairro boêmio de Bloomsbury; da batalha feminista ao pacifismo às posições revolucionárias sobre a literatura, a arte, a ética. Porque Bloomsbury mudou não apenas as formas do pensamento, mas também as maneiras da existência cotidiana: o modo de escrever bem como aquele de viver e de amar que, no caso de Virginia, remetem continuamente ao temor e à dor sofridos em tão tenra idade.Em torno da escritora inglesa transitam, em um afresco móvel e vivaz, o pai Leslie e a mãe Julia, a irmã Vanessa e os meios-irmãos, além dos amigos Lytton Strachey, Roger Fry, Maynard Keynes, Katherine Mansfield e T. S. Eliot, o marido Leonard e a amada Vita Sackville-West. É um mundo rico de inteligência, excentricidade e bizarria que soube enfrentar com desenvoltura generosa as provas escabrosas da modernidade, incluída a experiência da doença mental, que acompanha, obscurece e ilumina a existência e a escrita de Virginia.Graças a um estilo premente e vívido que convoca imperiosamente o leitor a experimentar a verdade, Nadia Fusini nos guia rumo ao segredo de Virginia Woolf.