O trabalho que agora chega às mãos dos leitores é o resultado de uma vasta pesquisa de História Política do Rio Grande do Sul, área de conhecimento cujos principais temas, muito embora pareçam à primeira vista esgotados, sempre estão abertos a novas e inovadoras abordagens. Este é o caso do livro em questão, obra do jovem e infatigável pesquisador Rafael Saraiva Lapuente. Fruto de sua dissertação de mestrado, o texto apresentando por Lapuente surpreende, ao menos, por duas grandes qualidades.A primeira está na densa e na criteriosa pesquisa que lhe dá base, na qual o autor não mediu esforços para levantar e analisar uma série de diferentes documentos (cartas, documentos oficiais, jornais impressos), que lhe permitem uma visão múltipla e profunda do governo de Flores da Cunha no Rio Grande do Sul e a sua relação com Getúlio Vargas, então todo-poderoso mandatário do governo federal.A segunda está no espírito inquieto do jovem pesquisador que não aceita passivamente as tradicionais interpretações historiográficas sobre o processo de afastamento de Flores e Vargas, terminado com a intervenção do Presidente no Estado e o consequente autoexílio de Flores da Cunha no Uruguai, em outubro de 1937, às vésperas do Estado Novo. Contrariando as interpretações correntes, as quais, influenciadas pelos grandes modelos da Ciência Política, procuravam explicar o afastamento dos dois políticos como resultado necessário das transformações estruturais próprias à construção de um novo modelo de Estado Federativo no Brasil, centralizador, autoritário e intervencionista e, por isso, mais adequado à consolidação do capitalismo industrial no país pós Crise de 29. Lapuente, embora não desconsidere totalmente este aspecto macroestrutural do problema, procura nos dar outra visão, recuperando na documentação vasculhada a as articulações que os próprios agentes históricos tinham do processo.