Dois textos do grande filósofo, inéditos até agora, possibilitam a investigação da relação de tensão de Wittgenstein com a religião e os valores culturais da civilização. Um deles é o registro em forma de diário de uma experiência (onírica) noturna, vivenciada no ano de 1922, e o outro, um fragmento de uma carta que Wittgenstein provavelmente escreveu à sua irmã Hermine, em 1925. A relação de Wittgenstein com a fé era ambivalente. Por um lado, ele a associava a algo sombrio, que se revela na sensação de estar totalmente à mercê de um poder divino, de um juiz supremo e severo, como o que aparece no Velho Testamento. Por outro lado, a fé significava "a luz", símbolo de pura espiritualidade, verdade e transparência, coisas a que ele aspirava em seu filosofar. Na vida pessoal, a fé parece relacionar-se à "redenção" de necessidades internas, à "iluminação", no esforço para solucionar problemas filosóficos.