Assim como o artista evocado no título dessa seleta de poemas Gauguin decide partir -, o poeta Geraldo Oliveira Neto está em busca da expressão mais apropriada ao seu imaginário.? Entretanto, a busca aqui não é uma tentativa de criar novas linhas e cores, o que G. O. Neto reivindica em seu caminho é a possibilidade de enxergar para além do que está sendo visto. Almeja-se uma verdade íntima, capturada na banalidade do cotidiano, capaz de revelar-se através de si e do outro. Com a habilidade de um contador de histórias, o poeta caminha em direção ao outro e aos poucos / justifica / repentina / a revoada de pássaros. Há um outro, protagonista, que é observado pelo poeta-narrador por vezes, nos confundimos com ele. É na capacidade de captura dos detalhes cotidianos -? imagine um quase / silêncio / pós-coito / olhe com atenção / para as bolhas / que se formam / ao despejar o café ?- que beleza se faz presente. Este, talvez, seja um livro de poemas encantado em narrativas, uma ilha de palavras seletas cercada por imagens infinitas. Este não é um livro / e mesmo que assim fosse / também não pagaria as contas, o poeta contesta. Tenho a sensação que o poeta me escapa, em cada página, na leitura e releitura de seus versos:? estrelas do norte / confirmam a distância / que nos percorre / agora sem tanta pressa / consigo tocar seu nome. O poeta permite a entrada de tudo que não é afeto, pelas frestas poema, sem excessos emocionais. E, conforme caminha, constrói seu percurso, fortalecendo o senso de alteridade, com olhar crítico entre absurdos, gêneros / e prateleiras repletas / de viciosas virtudes. Para adentrar no universo de Geraldo Oliveira Neto é necessário manter certa distância, assim é mais fácil perceber as mudanças e os possíveis caminhos ofertados para quem o acompanha. Ramon Nunes Mello