Esta doçura / tem casca preta, nos alerta Caio Junqueira Maciel num dos poemas deste seu pele de jabuticaba, nono livro publicado pelo autor. A metáfora, síntese da desconstrução poética que o escritor faz do mito brasileiro da democracia racial que, para escamotear a tensão social e o preconceito, atribuiu ao negro uma suposta candura, soa como ácida ironia diante do tema que organiza o núcleo dos poemas do livro: a revolta de um grupo de escravos contra seus senhores, ocorrida em 1833 numa fazenda do sul de Minas Gerais, terra natal do poeta. O fato histórico é ponto de partida para refletir sobre nosso passado comum: Escutem o galope daqueles cavalos / (e o golpe nas portas daqueles machados) / [] // Relinchos noturnos, obscuros remorsos, / memória estragada, lembranças que mordem. É também um fluxo interno que, ativando a sensibilidade do poeta, coloca em movimento a engrenagem íntima de seu fazer: [...]