Rainer Maria Rilke frequentava o Jardin des Plantes, em Paris, para "aprender a ver". Um exercício ocular, uma contemplação em câmara lenta, para habituar a vista aos aspectos que o observador comum julgava irrelevantes. Sérgio Medeiros, com estes Figurantes, transfere a visão direta, ainda que detalhista, para um surpreender introspectivo do que "ficou sem ser visto". Um olhar pelos interstícios, a captação do momento estático entre um fotograma e outro, o flash que intermedeia a visão real e a percepção imaginária. Ele "vê" o que só pode ser visto se abstraída a impressão visual oftálmica em favor da visibilidade extrassensorial. Seriam "fragmentos de contemplação" que, não raro, associam sua espectralidade a um requintado poder associativo de sensações olfativas e táteis. São figurantes ainda não escalados para os seus papéis na vida real ou que já a transcenderam e nos levam ao "pós-espetáculo" de uma realidade virtual.