Carino, seu pai, logo com dez anos de idade morreu da metade esquerda do corpo, sobrando-lhe apenas a outra metade ainda viva e operante. Houve uma comoção confusa no funeral da metade falecida, pois era preciso que Carino, habitando ainda a metade v iva e inseparada, se mantivesse deitado inerte na mesa do féretro para que os parentes pudessem se despedir da parte desencarnada, o que exigia dele uma paciência de que infelizmente não dispunha. Vez ou outra, por conta desses desconfortos estrutur a is dos músculos, Carino mexia bruscamente o corpo sobrevivente, mexendo também com isso a parte paramentada de defunto. Caíam ao chão as coroas de flores que adornavam o pacote funéreo.