Adoniran Barbosa, um dos mais celebrados personagens paulistanos, é o tema da pesquisa desenvolvida pelo jornalista Celso de Campos Jr., que está sendo lançada em livro pela Editora Globo. Trata-se da primeira biografia que apresenta com profundidade todos os perfis artísticos do autor de "Saudosa Maloca". A necessidade de preencher uma lacuna na trajetória conhecida de Adoniran - sua atuação junto ao rádio, TV e cinema - motivou o trabalho, que consumiu três anos de pesquisa. O biografado. Autor e intérprete singular, Adoniran Barbosa (1910-1982) ocupa lugar decisivo junto aos "grandes" da música brasileira. Seu português claudicante e suas canções memoráveis marcaram época e hoje integram o imaginário do brasileiro. Muito além do campo musical, sua carreira confunde-se com a história do rádio, do cinema, da TV. No rádio, fez sucesso como intérprete e comediante, especialmente na Record de São Paulo, onde criou tipos inesquecíveis como Barbosinha, Charutinho e muitos outros. No cinema, integrou o cast da Cinédia e da Vera Cruz, destacando-se como o "Homem-Arsenal", personagem de "O Cangaceiro", filme de Lima Barreto. Na televisão, além de programas de auditório, atuou em novelas, incluindo Mulheres de areia, de Ivani Ribeiro, na TV Tupi. A biografia. Um personagem que viveu o século XX e acompanhou a transformação da pequena São Paulo em metrópole. É assim que Adoniran - uma biografia compreende desde a epopéia da vinda dos pais do compositor, imigrantes italianos, até os acontecimentos em torno de sua morte, na década de 1980. Muito além da narrativa factual, todos os eventos relativos ao artista são inseridos no contexto sócio-político-cultural do Brasil e do mundo - "uma panorâmica de fatos históricos", nas palavras do autor. Portanto, são tratados o fenômeno da imigração italiana, a Revolução de 1932, a época de ouro do rádio paulistano, o ciclo da Vera Cruz no cinema brasileiro, o advento da televisão, a explosão populacional de São Paulo, com a migração nordestina, a chegada do metrô, as expansão das periferias. Assim como os acontecimentos históricos, outros personagens próximos ao biografado são revelados nos bastidores de estações de rádio, emissoras de televisão e estúdios de cinema. Contudo, apesar do volume de informações, "a narrativa se pretende leve e divertida, usando a mesma pitada de ironia com a qual Adoniran temperava sua trajetória artística", diz Celso de Campos Jr. Da pesquisa. O primeiro dos três anos de trabalho foi voltado às fontes primárias, levantadas em documentos arquivados no Museu Adoniran Barbosa, no Memorial do Imigrante, no Arquivo do Estado de São Paulo, em jornais e periódicos diversos, e em coleções particulares, como a da família Osvaldo Moles. Na seqüência, foram realizadas 81 entrevistas com pessoas que conviveram com Adoniran em seus mais distintos campos de atuação. Para citar alguns, o ator e diretor de cinema Anselmo Duarte, o produtor musical Pelão, o parceiro de juventude de Adoniran, Hélio Sindô (hoje aos 90 anos), e o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini. Além dos radialistas Randal Juliano e Paulo Machado de Carvalho Filho, o ator Carlos Zara e o desenhista Mauricio de Sousa. Vale destacar ainda a contribuição decisiva da família do biografado, em especial sua filha, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, e seu sobrinho, Sérgio Rubinato. A iconografia e os apêndices. 134 imagens completam o texto. São fotografias tiradas do álbum de família, stills cinematográficos, cenas de bastidores do rádio, cartazes, documentos, partituras, capas de discos, entre outras. Uma das imagens mais raras é Adoniran caracterizado como o beato Antônio Conselheiro, foto garimpada na Cinemateca Brasileira. A leitura se torna ainda mais agradável com excertos de roteiros radiofônicos: diálogos de personagens e tipos vividos por Adoniran na Record - documentos inéditos recuperados pelo autor e que preservam a memória do rádio brasileiro. Entre as canções, estão presentes as principais letras e algumas desconhecidas, como "Dona Boa", a primeira música gravada, e "Asa Negra", que faz referência à sua primeira esposa.