À primeira vista, Nuga parece um daqueles livros singelos, de leitura rápida e fácil. A começar pelo título coisa sem importância, ninharia. Pois a poesia às vezes parece mesmo fácil, no verso das rimas. Já no prefácio o próprio autor anuncia (em tom poético) as intenções do livro: ele quer falar de ti / de mim, ou de tudo / esse tudo tão nada. E segue hipnotizando o leitor pela cadência, pelo ritmo, pela sonoridade, com algumas pitadas de um certo humor autoirônico, ao mesmo tempo que desvela com leveza uma visão filosófica do mundo e da existência, passeando pelas artes e pelas formas (mais que literárias), pelas relações humanas (mais que amorosas), bem como pelas aparentes banalidades do cotidiano, para tocar nos temas mais profundos. Ao chegarmos nos poemitos da seção final, fica mais claro o denso equilíbrio entre forma e conteúdo, entre aforisma e hai-kai, análise e síntese da função etérea e perene do poeta: poder dar conta do mundo munido apenas de palavras