Pelo reencantamento da arte de comer. Ao reivindicar a observação da comida como objeto filosófico, livro mostra que há mais coisas entre o prato e a boca do que sonha nossa vã filosofia. Desde a Antiguidade Clássica, a comida e o ato de comer rondam a filosofia. Seja nos famosos banquetes de pensadores, seja à guisa de metáfora para reflexões de temas diversos (quantas vezes a palavra "alimento" escorou algum tratado filosófico?), fato é que seu papel sempre foi, de algum modo, coadjuvante. O que é uma tremenda injustiça. Comida e Filosofia tenta redimir esse desdém histórico ao tratar a comida, enfim, como um objeto de reflexão filosófica por si só. Para tal, os americanos Fritz Allhoff e Dave Monroe reuniram um vasto time que inclui não só filósofos, mas chefs, gourmets, críticos de gastronomia, artistas - o cineasta Woody Allen entre eles - e acadêmicos de diferentes áreas, para provar que o ato de comer vai muito além da simples sobrevivência ou do mero prazer. Nessa empreitada, assinam ensaios sobre temas tão diversos quanto vegetarianismo, ética na cozinha, pornogastronomia, fetiches e transtornos alimentares, a memória do paladar, o consumo da carne de caça, o valor estético da culinária e o papel das refeições na diplomacia - só para citar alguns exemplos. O resultado é uma espécie de brado pelo reencantamento da comida. Um passeio irresistível e abrangente pelas muitas facetas que o ato de comer, essa dimensão humana tão onipresente, pode apresentar à nossa reflexão. Como os Estados Unidos deixaram de ser um país onde a comida era escassa e passaram a um país onde ela é farta e barata? Pode uma potage de Crécy, uma sopa de cenoura, ser bela? Seria a frescura para comer uma falha moral? Devemos aceitar como verdade absoluta a constatação de um gastrônomo de que o gosto do cogumelo morel tem um quê de argila? Por esse livro circulam perguntas como essas, questões aparentemente despretensiosas que acabam por desvelar um campo renovado de inquietações, descobertas, ponderações e, claro, novas perguntas. Para respondê-las, o time de autores não recorre apenas ao pensamento filosófico. Pelo contrário: Comida e Filosofia é, antes de mais nada, uma deliciosa viagem por um universo popular de referências associadas, de diferentes formas, aos prazeres da vida. Um espaço infinito onde cabem a crítica kantiana do gosto e a presença da memória na obra de William Faulkner, mas também a sopa de falsa tartaruga de Alice no País das Maravilhas e uma receita especial de cheesecake. Um livro aberto ao pensamento de amantes da gastronomia tão diferentes quanto a chef americana Odessa Piper, do L'Etoile, o empresário Mark Tafoya, dono do novaiorquino ReMARKable Palate Personal Chef Service e Fabio Parasecoli, editor da revista italiana Gambero Rosso. Tudo isso faz com que Comida e Filosofia seja um livro cativante não só para foodies ou gastrônomos requintados, mas para qualquer leitor que aprecie a boa mesa e os bons papos. Como um banquete que se preze, a obra é dividida elegantemente em etapas: Entrada, Aperitivos: Comida na cultura e na sociedade, Primeiro prato: gosto e crítica culinária, Segundo prato: Arte comestível e estética, Sobremesa: Alimentação e ética. A chef brasileira Roberta Sudbrack colabora com uma apresentação, um "convite ao sabor", no qual já lança a provocação: comemos para viver ou vivemos para comer? Num texto inédito no Brasil, Woody Allen assina o crème de la crème: "Assim comeu Zaratustra", uma irresistível sátira do que teria sido um livro de dietas de Friedrich Nietzsche. Comida e Filosofia faz parte da coleção Sabores e Prazeres de Epicuro, que publica títulos que propõem uma interseção entre a filosofia e atitudes tão comuns no cotidiano quanto fazer uma boa refeição, degustar uma taça de vinho ou tomar uma cerveja em um bar. A coleção é uma homenagem ao filósofo grego Epicuro, que nasceu em 341 a.C. e que se tornou sinônimo de paixão por comer e beber.