Verve nua em semelhança de água e brilho inflexível contra o vento, uma adaga ou sílaba tão cortante que perpassa o outro lado da carne no tempo em que a pálpebra recolhe os novos olhos, sóis, oásis, humor aquoso e outros lagos multicores, seres avessos como dois ventrículos sonoros no lado escuro do corpo, pêndulos siameses de idênticos sopros e pesos ao fundo das sombras:ária desmedida de paixão em riste. Sobre a poesia de Contador Borges A Morte dos Olhos: Gostei muito, em primeiro lugar, do ritmo, infalível, contínuo, sustenido de cabo a rabo; depois, da capacidade de espargir o corpo, desagregar a realidade, a partir de um tom, digamos, espiritual, que , por sua vez, se sustém o tempo todo; o poema flui, meandro luminoso, adentrando as terras complexas do corpo astral e próximo, fazendo do palpável um exercício respiratório, um exercício espiritual deslumbrante. José Kozer