Escritos ao fim da vida, quando o autor se via à beira de uma crise nervosa e criativa, os Três contos de Gustave Flaubert constituem um dos pontos mais altos da literatura francesa do século XIX. Ao retornar a temas, figuras e paisagens que o acompanhavam desde a juventude, Flaubert destilou uma suma de sua obra nas breves páginas do último livro que chegou a completar. Aqui estão a Normandia natal e o Oriente que o fascinava; a gente provinciana e os personagens ímpares, os medíocres de todo dia e os santos de exceção; o cálculo mesquinho e o arrebatamento bestial; o realismo implacável e o voo visionário. Seja narrando o meio século de servidão de uma criada em Um coração simples, seja desdobrando a tapeçaria alucinada da Legenda de São Julião Hospitaleiro ou ainda reinventando um episódio bíblico em Herodíade, Flaubert levou a arte da ficção a extremos e territórios pouco explorados. Seu contemporâneo Henry James não tardou a ver um elemento de perfeição neste livro de 1877 [...]