Conhecido pelos romances satíricos, Evelyn Waugh (1903-1966) é um dos poucos escritores contemporâneos que soube reproduzir, com maestria de estilo, o humor tipicamente inglês. Sem artificialismos ou formalismos, seus textos são concisos, diretos e inteligentes, sempre pontuados por enfoques cômicos que se alternam entre o sutil e o escancarado, que o tornaram um dos maiores e respeitados escritores ingleses cujas obras continuam a angariar fãs no mundo todo. Depois de A Provação de Gilbert Pinfold, história quase biográfica do autor, sobre um romancista de meia-idade que sofre com alucinações e conspirações imaginárias durante uma viagem de navio, a Editora Globo lança agora O Ente Querido na XI Bienal Internacional do Livro do Rio, em maio, e já tem prevista a publicação de Black Mishief ainda este ano. Em O Ente Querido, a escrita apurada de Waugh mais uma vez se destaca, desta vez tendo como alicerce um enredo formado por personagens que vivem situações bizarras, mas extremamentes divertidas. "Sem dúvida alguma, o autor sabe colocar o humor na hora certa", diz Cid Knipel, que traduziu a obra. O livro é centrado nos percalços do jovem poeta inglês Denis Barlow, que, para desgraça e desdém dos seus altivos conterrâneos que vivem na Califórnia, trabalha em um cemitério de animais chamado Campo de Caça Mais Feliz. Encarregado de organizar o enterro de um amigo, o "ente querido" do título, Denis se apaixona pela americana Aimée Thanatogenos, maquiladora de defuntos no Parque Memorial das Clareiras Sussurantes - moça de manias estranhas que procura a solução de seus problemas amorosos trocando ávidas correspondências com o guru Brahmin, autor de famosa coluna sentimental. Na disputa pelo amor de Aimée, Denis terá como rival o americano Joyboy, ele também um maquilador de defuntos, admirado pela dedicação em um trabalho tão peculiar e filho extremamente devotado. Nesse triângulo de enamorados, Aimée, indecisa entre o "amor inglês" de Denis e do "amor à americana" de Joyboy, é quem determina o destino totalmente inesperado dos três protagonistas, numa seqüência de casos hilários. Por meio dos diálogos destas três personagens e de outras que surgem na história que o escritor tece críticas humoradas aos norte-americanos e ingleses, outra característica do romance. Estes últimos são representados por um grupo de amigos que recorda os tempos áureos vividos nos estúdios de Hollywood e cuja maior preocupação é manter intacta a honra inglesa. A menção do autor à indústria de cinema não é casual. Ele mesmo conviveu, na vida real, com os chefões de Hollywood, que o chamaram para adaptar seu romance Brideshead Revisited como um filme de amor, contrariando a característica do livro que era essencialmente religioso.