Para além dos progressos científicos e técnicos, da mundialização da Economia, do naufrágio dos valores tradicionais, das guerras, das revoluções e dos genocídios, o que dá grande originalidade ao século XX é a fantástica multiplicação do número de pessoas, ao mesmo tempo causa e consequência das mudanças. Tanto quanto se pode apurar - com uma margem de erro de 50 milhões -, éramos, em 1900, um pouco menos de 1 600 000 000 passageiros do Planeta azul. Tanto quanto se podia prever - sempre com uma margem de erro de 50 milhões -, seríamos um pouco mais de 6 mil milhões a 31 de Dezembro de 2000. Com 11 habitantes em média por quilómetro quadrado no início de século XX, por quase todo o lado nos passeávamos à vontade nas pontes e coxias do nosso paquete Terra; começámos a achá--las bem mais obstruídas, com quase 42 habitantes por quilómetro quadrado no final do mesmo século. É verdade que esta noção de densidade média não faz grande sentido: 90 % das pessoas estão concentradas em 10 % das terras emergidas, a maior parte no hemisfério norte, entre o 20º e o 60º grau de latitude. Mesmo deixando à parte o caso particular das ilhas, sempre mais povoadas que os continentes vizinhos. Um outro aspecto fundamental é o crescimento diferencial das populações: em cem anos, a população do Brasil decuplicou, a da França apenas cresceu 45 %. Esta desigualdade faz-se sentir à escala continental: numa base 100 em 1900, a população africana atinge actualmente o índice 700, a população europeia apenas 175. Assim, o peso demográfico dos grandes conjuntos geopolíticos sofreu alterações, com as consequências que se pode facilmente imaginar; e essas alterações não terminaram, pois os potenciais de crescimento inseridos nas estruturas demográficas dos Estados e das etnias são terrivelmente desiguais: no último fim de século, a taxa de crescimento natural da África central foi de 30 %, o que poderia levar, na ausência de alterações, a uma duplicação em vinte e três anos, ao passo que a Rússia, a maior parte da Europa de Leste e os países mediterrâneos nem sequer chegam ao crescimento zero: começou o declínio. Esta obra analisa os formidáveis diferenciais de crescimento entre continentes e zonas culturais que mudaram o aspecto demográfico mundial. Uma obra de importância absoluta. JACQUES DUPÂQUIER, historiador demógrafo, é membro da Academia das Ciências Morais e Políticas, França.