Este livro poderia se chamar Uma história da vulnerabilidade. Com mão levíssima, Denise Sant’Anna segue um fio narrativo sobre nossas mazelas físicas e o quanto a nossa frágil condição humana tem reflexos na forma como nos relacionamos com o mundo e construímos nossas memórias. A cabeça do pai é um romance sobre os laços emocionais e orgânicos que nos ligam aos outros, atravessados tanto pela violência quanto pelas graças do acaso. A narrativa tem início quando o pai da narradora, idoso e exausto de cuidar da esposa com Alzheimer, embora física e mentalmente ativo, sofre um AVC hemorrágico. O trágico episódio abre uma janela para a memória afetiva, descortinando uma teia de relações familiares e sociais acerca da consciência da morte. Com cada capítulo estruturado em torno de um órgão ou membro do corpo, o romance ganha fôlego na mistura de relato pessoal, memorialismo e ficção de tinturas tragicômicas. Sua poderosa leitura da crescente medicalização da vida, em que somos [...]