O ser-com é a anterioridade do ser. Indica uma procedência. Foi por um gesto interpretativo, pela supressão do -com, que o ser pôde emergir solitário ganhando o status de irredutível e absoluto na tradição filosófica. Mas o -com, já dizia Jean-Luc Nancy, é a pré-posição da posição em geral. Neste ensaio, Eduardo Yuji Yamamoto retoma o contexto de aparição do ser-com no pensamento contemporâneo e explora a potência desse termo para compreender a amplitude e a complexidade dos fenômenos da comunidade e da comunicação. Questões urgentes como a dificuldade de convivência com a diversidade, o fechamento em grupos identitários como as redes sociais digitais, e até a violência contra formas de vida não institucionalizadas parecem hoje insuperáveis dada a ausência dessa preposição (-com) na formulação teórica e prática da experiência humana. Com o seu desvelamento, todavia, o autor amplia o significado dos conceitos de comunidade e comunicação, dando visibilidade a essa dimensão esquecida do -com. Assim, comunidade deixa de ser mera identidade para referir-se também a um processo interminável de subjetivação, do mesmo modo que a comunicação supera a ideia de transmissão e passa a designar a liberdade do relacionamento dos seres humanos no mundo.