Para quem nunca leu Victor Hugo, A Águia e o Leão, excelente antologia de seus escritos políticos e de crítica social, organizada e prefaciada por Walnice Nogueira Galvão, será uma grande descoberta. E mesmo para aqueles que, como eu, o leram bastante na adolescência, mas depois praticamente se esqueceram dele, relegando-o a mero personagem da história literária, esse reencontro não será menos surpreendente e revelador. Trechos exemplares de seus principais romances (Os Miseráveis, Os Trabalhadores do Mar, Nossa Senhora de Paris, O Homem que Ri) somam-se a alguns de seus melhores poemas de combate civil, quase sempre extraídos do volume Os Castigos, e a esplêndidos e atualíssimos discursos parlamentares em defesa da democracia e da justiça social, compondo um mosaico fascinante da obra de Victor Hugo e da sociedade francesa do século 19. Victor Hugo, que foi provavelmente o escritor mais famoso e prestigiado de sua época, não só na França mas no mundo inteiro, e exerceu notável influência sobre romancistas e poetas dos mais diversos países, teve um destino póstumo paradoxal. A parte mais impactante dessa antologia são os magníficos discursos parlamentares e os textos de intervenção política de Victor Hugo. Sobre temas que não perderam até hoje nada de sua importância: o Estado laico, o sufrágio universal, a liberdade de imprensa, os direitos dos trabalhadores, os direitos das mulheres, a hipocrisia das elites dominantes, a beleza das lutas populares. Todos eles discursos de sólida base doutrinária e rigorosa argumentação, mas tocados por um sopro de altíssima poesia.