Essa obra é um exemplo primoroso da capacidade literária de Miguel de Unamuno, um dos mais prolíficos e bem-sucedidos autores da língua espanhola, pois parte de uma espécie de relato pessoal, político e filosófico para endereçar problemas mais caros ao escritor basco: questionamentos sobre a existência humana, pergunta pelos fundamentos e limites da religião, a aferição sobre a potência dos gêneros literários e, não sem um ponto de ironia e tragicidade, a consideração sobre a própria produção da escrita e da leitura. É um livro que dialoga com a expressão novelística de seu tempo, que posiciona perante as produções de André Gide e Marcel Proust, mas que não deixa de reportar-se à tradição reavivada por Unamuno. São convocados Cervantes, Góngora e Kierkegaard, não como detalhes de erudição, mas como força de carne e osso que permite ao autor expressar o mais presente, o próprio ato de escrever. [...]