No estudo de Philippe Ariès (1914-1984), observou-se que a partir do século XVII houve uma crescente ênfase na instituição escolar, que propunha a substituição da família por profissionais da educação, no ensino dedicado à criança, que, antes depreciada, começava a receber destaque e tornava-se figura central na família. A criança, de filho, passou a ser intuída como aluno e percebida como criança-aluno. O pedagogo tcheco João Amós Comenius, enquanto apologista da instituição escolar, ao propor sua organização escolar, inicia pela escola materna, denominando-a como "escola da infância", o que demonstra claro entendimento de que o ambiente familiar era uma das classes escolares essenciais em sua proposta de reformar e organizar a instituição escolar, visto que dela dependeriam as demais classes. A escola-família deveria ser considerada como prioritária, já que nela se formaria a criança-aluno de zero a seis anos, e os pais não só seriam responsáveis em prover a educação, mas igualmente considerados como "pais-professores", e as crianças como alunos dessa instituição, família-escola. Aos pais-professores era indispensável prover manuais para que soubessem ensinar a criança-aluno. No atendimento dessa demanda é que Comenius escreveu a Didática magna, A escola da infância e a Pampaedia, sendo que, das três, a que mais se harmoniza com o formato de manual destinado à educação da primeira infância é a obra A escola da infância, conforme analisada neste livro. No primeiro capítulo - A obra de Comenius à luz da interpretação de Philippe Ariès: valorização e descoberta da criança - foram estabelecidos vínculos hermenêuticos entre Ariès e Comenius com ênfase na valorização e descoberta da criança. O segundo capítulo - Comenius em prol da escola: ensinar a todos - evidenciou o pedagogo tcheco como um árduo defensor da instituição escolar.