Existem obras que nunca deveriam ter sido escritas por aquilo que anunciam de trágico e irreversível. A raposa de cima e a raposa de baixo é uma delas. Sua leitura está marcada pelo anúncio, já na primeira página, do suicídio do autor, José María Arguedas. Num texto de natureza indefinida no qual se misturam diários, depoimentos, romance e etnografia urbana, duas raposas milenárias, oriundas dos contos mitológicos andinos, revelam a realidade crua do mundo da pesca na cidade de Chimbote, ao norte do Peru. Um mergulho nesse universo periférico, construído com uma linguagem transgressora, permite conhecer o outro lado da revolução econômica que mudou aquele país nos anos de 1950.