As lâminas permeáveis é um livro que se alastra por paisagens transitórias, que se multiplicam rumo a um aeroporto. Desde a folha de rosto, o reflexo de uma figura se forma entre as linhas. Em meio às notas numa caderneta acerca do que o sonho e a vigília deixam a desejar, tatearemos a textura instigante da matéria textual nua em pelo. Através de Flora, na direção de Lucília, percorreremos as cidades escondidas na cidade. Carlos Eduardo expõe, assim, os cruzamentos daquilo que permeia e é permeado, onde o real, nunca desnudo, é refeito em mais de uma ficção. Cruzamentos esses que se erguem no mapa mental — como duplo da memória (coletiva e afetiva) — dos bairros de São Paulo, locais de passagem que revelam camadas de tempo sobrepostas. Talvez, no percurso, nenhum de nós descubra a natureza da cor nos cabelos de Lucília, essa protagonista figurante, ou nos de Charlotte, hóspede no endereço de uma fantasia muito crua. A pele é negra. A cidade é móvel. Não perderemos a viagem.