Navegar é preciso, viver não é preciso: é o que diria o eterno estrangeiro, cuja pátria é a língua, Fernando Pessoa. O eu-lírico dos poemas de Variações do Exílio, novo livro de poemas de Fiori Ferrari, não concorda nem discorda do poeta português: ele, simplesmente, não conhece outra vida senão a da navegação, a da viagem. O exílio, nesta obra, mostra-se de vários formatos, abordando vários sentimentos da mudança e da partida. A saudade, esta palavra brasileira de difícil tradução, se expande: vira vários poemas inteiros – mas não é somente de saudade que se faz o exílio, ou a poesia. As sensações também são outras. Ferrari não cria um álbum de viagens, mas sim o retrato do Abandono – substantivo abstrato que, aqui, ganha quase um ar de concreto. O autor, em sua sensibilidade mais bonita, lança este livro no momento certo: em um mundo em que a imigração chega a ser a maior da história, neste lado do Atlântico, alguém ousa olhar para essa grande crise humanitária com, enfim, olhos e corações humanos.