Feito e a ser feito poderia ser o subtítulo de todo o trabalho filosófico digno desse nome. Não se faz filosofia para salvar a revolução, mas para salvar pensamento e coerência. A filosofia é a tarefa de tomar sobre si a totalidade do que é pensável e é necessário pensar aquilo que se faz. A via da filosofia se abre necessariamente na reflexão sobre as ciências e sua história. Porém, mais privilegiada ainda, filosoficamente, é a reflexão do social-histórico e do psíquico. Sociedade, história e psique não são condições exteriores e triviais da filosofia. Elas fornecem-lhe o elemento de sua existência e sobretudo exprimem-se na filosofia. Castoriadis demonstra uma preocupação com a escalada da insignificância nestes tempos que se caracterizam pelo conformismo generalizado, diante da profunda crise das significações imaginárias sociais. Castoriadis não era exatamente o que se poderia chamar de um otimista: para ele, o imaginário social instituinte era força de criação, tanto da emancipação, quanto da alienação, tanto da autonomia, quanto das condições de desigualdade e dominação humanas. Neste que foi seu último livro publicado em vida, realizando uma espécie de testamento de toda a sua obra, ele registrou com bastante clareza a disposição que o animava e que o tornava este filósofo único, este ser permanentemente comprometido com a causa humana: Feito e a ser feito.