“Platão, creio, estava doente” (Fédon 59 B). Esta famosa frase do Fédon, a que alude o título desta obra, traduz uma estratégia de ocultamento, pela qual Platão sinaliza claramente que sua obra escrita não pretende se apresentar como um conjunto de documentos históricos, testemunho de diálogos efetivamente ocorridos, ao mesmo tempo em que lhe permite fazer do condutor dos diálogos, na maioria deles Sócrates, uma dramatis persona de si mesmo. Assim como na tradição direta dos escritos Platão esconde-se deliberadamente, mas revela seu pensamento sob a máscara dos personagens literários que criou, também na tradição indireta seu pensamento encontra-se camuflado, seja pelo caráter alusivo de muitas passagens de seus escritos, seja pelo testemunho de seus discípulos imediatos e longínquos.