Como se produz a passagem adolescente em contextos de miséria, abandono, violência, em comunidades submetidas ao abandono do Estado e em poder das organizações criminosas? Quais as possibilidades de inscrição no laço social para estes adolescentes que já têm uma história que porta as marcas da exclusão? Como essas vivências incidem e/ou transformam a constituição subjetiva? Que interrogantes esse cenário de desproteção social e política pode produzir à psicanálise? Ao trabalhar em territórios conflagrados pela violência e exclusão social, temos conhecido e acompanhado histórias minúsculas (Foucault, 2003) essas "existências destinadas a passar sem deixar rastros", que nos dizem de outros mundos dos quais conhecemos muito pouco, e nos desvelam as dobras escondidas de uma cidade que ninguém quer ver. Dessas "histórias minúsculas" é composto este livro, com adolescentes que vivenciam uma multiplicidade de situações onde está presente a marca da fragilidade e do desamparo, mas que também portam a potência para resistir, para construir o novo, uma vez que a luta pela sobrevivência também pode ser fonte de criatividade. A eles cabe dar visibilidade nesta obra e construir dispositivos de escuta e elaboração que possam abrir brechas, criar frestas, iluminando com a palavra e a escuta estes territórios onde a vida pulsa e resiste.