“História da província de Santa Cruz”, de 1576, foi lido como “relato de viajante ou como “nossa primeira história”, entendido como testemunho de impressões antigas dos portugueses nas terras d’além-mar. Contudo, esta simples história ou tratado descritivo da “costa do Brasil” teve circulação muito restrita à época, o que leva a crer que foi recolhida e destruída após sua impressão. Permaneceu praticamente ignorada até 1837, quando foi reconsiderada em edição e tradução francesa. A obscuridade do livro nos séculos seguintes à sua publicação é tanto mais estranha tendo-se em vista que, por intermédio de uma elegia e um soneto de Camões, o livro é dedicado a um varão de armas em carreira promissora nas Índias portuguesas, tendo sido impresso pela mesma oficina tipográfica que compôs Os Lusíadas. Diferente de um testemunho empírico, o livro é composto conforme a ideia de gênero histórico, retoricamente regrado, em que o historiador, apoiado pelo aconselhamento ético da Igreja Católica, exalta, pelo discurso, ações virtuosas de pessoas de caráter elevado e eventos providenciais.