Narratividade e reflexão sobre a história são duas tônicas pouco freqüentes na poesia brasileira contemporânea. São dominantes, porém, na obra de Horácio Costa - que, por conta disso, vem se constituindo numa voz singular da poesia atual. Num autor complexo como Horácio Costa, no entanto, não há mímese direta da realidade (ou seja, ele não representa coisas e seres, mas os reapresenta numa nova ordem). E aquilo que é opaco se oferece em enigma, por força de uma linguagem que vai passando quase instantaneamente do elegíaco para o escatológico, do erudito para o chulo. Autor de poesias que dialogam com a tradição latino-americana do poema longo (presente nos versos caudalosos de "Poema Nímio"), Horácio Costa vai construindo uma mitologia particular, em que Caravaggio e Rimbaud rimam com Carmen Miranda e Rita Hayworth.