O livro. Alguns anos de pesquisa e uma boa dose de humor resultaram em uma forma original de contar uma história. O artista Terciano Torres tomou como ponto de partida o Pátio do Colégio, no centro de São Paulo, e reuniu em livro os quatro séculos e meio da história da cidade, misturando desenhos reais (detalhes de arquitetura e apelos históricos) com uma paisagem urbana recheada com caricaturas de personagens que marcaram época. O resultado é o álbum São Paulo - Pátio do Colégio - Uma história ilustrada a bico de pena, que está sendo lançado pela Editora Globo. O livro reúne 51 ilustrações - chamadas de cartuns postais pelo artista - com detalhes peculiares que contam a história da cidade de forma descontraída, facilitando o aprendizado sobre os seus 450 anos de existência. Aberta, a publicação exibe uma página com texto seguida de outra com ilustrações que começam em 1553 (um ano antes da fundação da cidade) para mostrar como era o lugar - com natureza exuberante e a presença de índios - onde São Paulo seria construída.As ilustrações têm como cenário uma vista panorâmica de momentos do cotidiano do Pátio do Colégio, povoados pelos mais diversos personagens. Os desenhos pontuam acontecimentos importantes da cidade ao longo de quase cinco séculos, como fundação, expulsão dos padres jesuítas, independência do Brasil, mão-de-obra escrava e abolição, chegada dos imigrantes, verticalização da cidade com arquitetura eclética, recessão mundial de 1929, migração nordestina, censura, construção do metrô, o vestuário de cada época etc. As cenas mostram tanto figurantes anônimos como personagens que em algum momento fizeram parte da história paulistana. Entre eles estão Santos Dumont, o arquiteto Ramos de Azevedo, Getúlio Vargas, Adoniran Barbosa e até Chico Bento, criação dos quadrinhos de Mauricio de Sousa bastante ligado à cultura regional. A leitura de São Paulo - Pátio do Colégio - Uma história ilustrada a bico de pena lembra uma história em quadrinhos em formato gigante. Esse tipo de abordagem pelo humor permite a irreverência, dá dinamismo, não é enfadonho e até abre espaço para a licença poética, observa Terciano Torres.Outra característica da obra é que a sequência dos desenhos mostra muitas das reformas desse marco da cidade que é o Pátio como demolições e reconstruções que acompanharam as diversas mutações que fizeram de São Paulo a grande potência econômica da América Latina. Foi ao redor do Pátio do Colégio que funcionou o primeiro museu, a primeira agência de Correios do Estado. Foi ali que Evaristo da Veiga compôs o Hino da Independência - musicado por Dom Pedro I. Também foi ali que aconteceram eventos importantes que resultaram na sangrenta Revolução de 1924. Suas dependências serviram de Colégio dos Jesuítas até 1759 e de Palácio do Governo, a partir de 1765.Os textos explicativos que situam o contexto dos desenhos tratam de eventos importantes da política, da economia e da cultura paulistana, acontecimentos relacionados à cidade e que vão além da proximidade física com o Pátio do Colégio. Por exemplo, o movimento constitucionalista de 1932, a Semana de Arte de 1922, a música, os bondes antigos que eram puxados por burros, os bondes elétricos, a chegada dos automóveis e da televisão, além do comício das eleições diretas, em 1984. Cada informação foi rigorosamente levantada pela Companhia da Memória, empresa especializada em pesquisa histórica. Os cenários foram criados pelo artista a partir de desenhos, fotografias, mapas, pinturas e com a ajuda de descrições de livros. O trabalho de Terciano impressiona pela riqueza de informações que compõem cada cena. Tudo nas ilustrações tem seu significado. Nada é gratuito e deve-se olhar cada detalhe com atenção e curiosidade, num exercício que estimula o raciocínio e torna a informação histórica atraente tanto para adultos, quanto para crianças e jovens em idade escolar. Nesse sentido, os textos explicativos dão uma valiosa ajuda para que se tire o máximo de informação dos desenhos.