Trata-se, sobretudo, de dar corpo e consciência a pessoas concretas, como as três mulheres protagonistas: Eyabe, que significa “nascimento” na língua douala dos Camarões; Ebeyse, a matriarca da tribo, responsável pelo equilíbrio da comunidade; e Ebusi, que não se conforma com a tragédia. Cada uma delas tem a sua verdade, a sua consciência do mundo, marcada pelos usos, crenças e costumes ancestrais, transmitidos de geração em geração, e que perdem todo o sentido em face da tragédia. Sobretudo pela voz de Eyabe, cuja “ identidade não era a de uma mulher isolada (…). Provinha de um povo que possuía uma língua, usos, uma visão do mundo, uma história, uma memória”.Dar corpo e voz aos protagonistas de um tempo que ficou fora da História. É este o desafio que Léonora Miano enfrenta com o seu sétimo romance, intitulado "A Estação das Sombra". A escritora camaronesa, radicada em França, debruça-se sobre uma época pouco focada nos livros de história ocidentais. Esse tempo é aqui visitado pelos olhos dos seus protagonistas: a população da África subsariana, confrontada no final do século XVI com a chegada dos europeus e de um comércio feroz assente no tráfico de seres humanos. São conhecidas as representações históricas e artísticas da escravatura, e das provações infligidas aos povos africanos com esse flagelo desumano. Mas quem eram estas pessoas? Como viviam elas? Qual foi o impacto desta tragédia nos povos que a sofreram, e nos indivíduos que escaparam à captura?