Em 1712, Antoine Watteau pintou a primeira versão de "Embarque para Citera", como pré-requisito para ingressar na Academia Real em Paris. Em 1983, por ocasião de um colóquio em Berlim, Norbert Elias - aos 86 anos e já quase cego -, diante da tela e de diversos colegas, discorreu sobre o quadro e seus elementos com uma perspicácia e riqueza de detalhes que deixaram todos pasmos. O presente ensaio teve origem nessa "aula" informal, mas o quadro já interessava Elias desde sua juventude, quando preparava a tese sobre 'A Sociedade de Corte'. Na ambigüidade da tela - luminosidade e melancolia - e através dos diferentes tipos de recepção de Citera ao longo do tempo, o autor via o prenúncio de uma mudança na configuração social européia: o declínio da aristocracia e a ascensão da burguesia. "A Peregrinação de Watteau à Ilha do Amor" expõe com clareza, e do ponto de vista sempre peculiar de Elias, a mudança de mentalidade na Europa desde a Revolução Francesa até o final do século XIX, quando as utopias idealistas transformaram-se em medo e angústia. Essa edição brasileira inclui, reproduções a cores das três versões da tela pintadas por Watteau e prefácio do diretor da Fundação Norbert Elias, Hermann Korte. Além disso, traz apreciações críticas da obra de Watteau, de autoria de Gérard de Nerval, Jules e Edmond Goncourt e Théophile Gautier, autores citados por Elias ao longo do livro.