Trata-se de um estudo qualitativo que buscou evidenciar os conteúdos ideológicos em relação ao aborto expressos nos discursos de docentes do Curso de Enfermagem da Facul-dade de Medicina de Marília (FAMEMA), identificar as contradições presentes em tais conteúdos e tematizar tais contradições na perspectiva de gênero. Foram entrevistadas onze docentes cuja prática profissional estava diretamente relacionada à saúde da mulher e que atuavam no ensino e na assistência de enfermagem em unidades básicas de saúde e hospitalares. A análise temática permitiu identificar quatro categorias empíricas: o aborto espontâneo x o aborto provo-cado, a atitude profissional: empatia x discriminação, o direito do feto à vida x o direito da mulher à autode-terminação, a teoria x a prática. O aborto provocado e o aborto espontâneo apresentam-se como polaridades de uma mesma unidade dialética, geradora das ambigüidades iden-tificadas no discurso das docentes. Este, por sua vez, institui-se em um discurso autorizado sobre o real, porque respal-dado no saber científico e no poder que dele decorre, o que remete à necessidade de reconstrução do aborto como objeto da intervenção na prática e no ensino de enfermagem, por suas implicações ético-políticas.