Moysés Eizirik, em suas duas primeiras obras - Aspectos da vida judaica no RS (1984) e Imigrantes judeus (1987), que se completam em Memórias da vida judaica..., leva ao campo cultural e histórico a percepção e precisão de sua experiência médico-pediátrica. Olha para a imigração judaica no Estado, como um médico e uma mãe olham para uma criança, ficam à sua escuta, curtem o primeiro sorriso e se preocupam com o primeiro desconforto. Desde a imigração judaica-criança, ensaiando seus primeiros passos no RS (1900), até o presente, Moysés vai coletando os primeiros diálogos entre pessoas e famílias, ordenando, tijolo a tijolo, a grande construção histórico-cultural que veio florescendo em sinagogas, entidades artísticas, culturais, assistenciais, filantrópicas e empresariais. Memórias da vida judaica não é a fala do autor, mas o registro das palavras vivas que traduziram, evolutivamente, a vida de pessoas e instituições, de maneira concreta e objetiva. Não é um frio relato ou uma interpretação de fatos que fluíram no curso dos anos, mas um registro do quotidiano, semelhante aos fenômenos vitais contínuos e evolutivos. Moysés registra a vida de ontem, festejada na fraternidade judaica de hoje, com sonhos de amanhãs luminosos, genuinamente retratados em palavras essenciais, em depoimentos espontâneos, em histórias e contos realistas, pitorescos e picarescos. O pediatra, em Memórias da vida judaica, se revela o antropólogo que entrelaça, através de registros de experiências infantis, jovens e adultas, desvelando aqui e agora, o ser, fazer, pensar e crer judaico de pessoas, comunidades e instituições. Memórias da vida judaica é um contínuo Rosh Hashaná histórico, que conduz ao Yom Kipur do desafio árduo, mas prazeroso, a que todo judeu é chamado a responder, para resgatar os antecedentes de sua identidade sul-rio-grandense e brasileira. A vivência bíblico-espiritual de Moysés o fez procurar, no curso da história judaica do RS, os ícones de uma história, ou, como diria o Livro de Tobias (8,5-10), os santos patriarcas que nos legaram seus sonhos, utopias, trabalho, lutas, tradições e fé. Memórias da Vida Judaica é um sólido pilar, sobre o qual vai se firmando, desenvolvendo e enriquecendo a identidade judaica, e se constitui como Bíblia para quantos buscarem percorrer o mesmo caminho. Memórias da vida judaica coloca o leitor em cena e o torna ator de uma história viva: singular para cada um, cada família e cada instituição, e, por sua fonte bíblica, universal, como atualização da fala de Deus a toda a humanidade, através do povo judeu, presente no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 20 de setembro de 2007. Frei ROVÍLIO COSTA Moysés Eizirik nasceu em Porto Alegre; filho dos imigrantes Marcos e Rosa Eizirik, que vieram ao Brasil antes da I Grande Guerra. Fez os estudos do primário e ginasial em Porto Alegre. Após ter prestado serviço militar no antigo 7º Batalhão de Caçadores, ingressou, por concurso, na Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Em 1939 e 1940, cursou o pré-médico no- turno, na primeira turma do Colégio Júlio de Castilhos. Em 1941, ingressou na Faculdade de Medicina na UFRGS e, no mesmo ano, fundou o Curso Ginasial Machado de Assis. Em 1946, concluiu o curso de Medicina, e desde então vem clinicando na capital. Até 1963 foi pediatra, e desta data em diante vem se dedicando à Alergia Clínica. Participou da Diretoria da Sociedade de Pediatria, do Conselho de Representantes da AMRIGS e do Departamento de Alergia, que presidiu durante quatro anos. Na década de 1950, colaborou em vários órgãos da imprensa da Capital, como a "Última Hora", "Diário de Notícias", abordando assuntos médicos de interesse geral. No "Correio do Povo", publicou crônicas sobre suas viagens ao exterior. Foi, também, correspondente durante vários anos do "Jornal Israelita", do Rio de Janeiro. Em 1984, publicou seu primeiro livro "Aspectos da Vida Judaica no Rio Grande do Sul". No ano seguinte, publicou em São Paulo "Oswaldo Aranha", um ensaio sobre a vida do eminente estadista brasileiro. Seu terceiro lançamento foi "Imigrantes Judeus". Tendo participado de diretorias do Colégio Israelita Brasileiro, Hebraica e várias Feiras do Livro, inclusive Patrono do Livro Judaico do Centro Israelita, o autor apresenta novos elementos sobre a presença judaica em nosso Estado.