A Escrituras Editora, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB/Portugal), publica Aromas de Cajamanga, antologia poética de Olinda Beja, uma das mais destacadas poetas de São Tomé e Príncipe. A organização e prólogo da obra são de Floriano Martins e ilustrações de Sérgio Lucena. Em Aromas de Cajamanga, o público finalmente passa a ter acesso à voz dessa notável poeta e seu canto, sempre impregnado pela doçura cadenciada que a terra crioula lhe doou ao coração. Olinda Beja leva uma vida sem receios, uma bonita lição colhida na arvore ancestral de seu povo, a África de São Tomé e Príncipe entranhada nas festas populares, no teatro mágico que a todo instante reanima as origens. Como destaca Floriano Martins, no prólogo da obra, trata-se de uma orgia de sons que são o batuque frenético de sentidos que nos escapam, as entranhas de uma África que hoje parece perdida, violentada ou torpemente folclorizada (...) O caldo em que banha ritos e mitos, o enlace com que multiplica a inquietude, como vai buscar os vultos da infância, o encanto dos trovadores, as vestes da tradição, o relicário do desejo, afinidades com outras fontes líticas, tudo isto resplende como invenção incansável nessas páginas (..) De riqueza inigualável a envolvente melodia de sua imaginação. Segundo Nuno Rebocho, Olinda Beja é uma referência na literatura de São Tomé e Príncipe, onde avultam nomes como Caetano da Costa Alegre, Francisco José Tenreiro e Alda Espírito Santo. Olinda que partiu criança da sua ilha até os longes de outras paragens, não rompeu as raízes que continuam a prendê-la ao chão original cantando ‘palavras de gengibre repartido por bocas onde escorre abacaxi selvagem’. Os poemas de Olinda Beja são uma encruzilhada de culturas, são os segredos que sibilam nas muralhas, segredos dos avós escravos-livres de rotas e caminhos, são o grito da diáspora numa Santomensidão que lhe lateja nas veias com a força do danço-congo e a fogacidade do kilelê.