Do caos às cintilações - no olhar da poetisa ("trapezista do absurdo / me equilibro a todo custo..."), memórias e cenários desfilam numa trama tecida com sensibilidade e delicadeza, percorrendo solidões para estabelecer com o leitor uma relação de intimidade - às vezes plácida, às vezes tempestuosa (como de resto sempre são as relações) - e uma simetria que se abre a múltiplas imagens e reflexos, como num espelho cindido, desdobrando-se em novos infinitos a cada leitura. Pollyanna Furtado escreve como quem sente o sabor secreto de cada palavra, descobrindo sentidos no ritmo secreto de cada estrofe. Nas cores dos seus versos, na clareza do assombro com que se fratura e se expõe a poeta ("Não sou aquela do retrato / que outrora, silenciosa, / ignorava a própria sombra / e não ousava lançar a própria voz / [...] Hoje me habita / sublime e solitária uma fera, / com a força dos ventos / e a frescura das chuvas impetuosas."), no jogo sutil com os elementos, desvendamos a beleza latente em todo o caos.