O Colóquio dos cachorros é uma das novelas que compõem Novelas exemplares, livro publicado por Miguel de Cervantes em 1613. É a primeira história de cachorros falantes na literatura ocidental, não por acaso concebida pelo escritor geralmente reconhecido, ao lado de William Shakespeare, como fundador da literatura moderna. Por uma noite, os cachorros Cipião e Berganza, que habitam e protegem o Hospital da Ressureição de Valladolid, adquirem o dom da fala. Antes que amanheça, Berganza narra sua vida para Cipião. Suas histórias, sempre pontuadas pelas observações equilibradas de Cipião, percorrem várias cidades da Espanha e traçam sua relação com seus inúmeros donos: pastores que ludibriam o proprietário do rebanho, ciganos que vendem duas vezes o mesmo animal para um comprador desavisado, um artista de rua que lhe ensina truques para receber moedas, homens de negócio nem sempre honestos. Inspirados por essas histórias, os cachorros refletem sobre o homem e sobre a ética do seu tempo. Flertando com a estrutura de romance picaresco, tão difundido na época em que foi escrita esta novela, Cervantes inova ao confrontar a realidade fantasiosa com a verossimilhança e ao elevar as técnicas de narrativa literária a outro patamar. A sátira social, a fantasia, o humor, são características do autor de Dom Quixote que se condensam neste texto do século XVII que mantém a atualidade