Quando concluí a leitura de Toda-Mulher-Vaga-Lume, eu me recordei de um livro que relera há pouco tempo e permite comparar dois panoramas literários distintos, extraindo algumas considerações. De Júlio Ribeiro, A Carne, é um romance que, publicado em 1888, escandalizou a sociedade e atraiu a ira da igreja, ao apresentar temas até então ignorados pela nossa literatura, como a independência da mulher, divórcio e o amor livre. Polêmico e alvo de curiosidade, o livro esteve entre os mais vendidos durante décadas. Era comum ser comprado em segredo, muitas mulheres foram impedidas de ler ou, quando obtinham permissão, as páginas consideradas impróprias eram rasgadas. No entanto, em 130 anos, essa obscenidade perdeu o viço, revelando uma drástica mudança de comportamento que durante séculos permanecera incólume e, se é inegável o quanto foi difícil esta caminhada, também é notório que há um longo percurso a ser vencido. Prova é a possibilidade o lugar de fala e a dificuldade a crise do (...)