O leitor brasileiro vai poder conhecer ou reler um dos mais importantes poemas do século XX de uma nova maneira: Uivo (Howl), de Allen Ginsberg, um dos mais importantes nomes da geração beat, ganha nova tradução de Luis Dolhnikoff e ilustrações de Eric Drooker. Publicada originalmente em 1956, a obra causou polêmica nos Estados Unidos, onde foi proibida e rendeu processos contra o autor e o editor por obscenidade. Sua radical defesa da liberdade de expressão e das mais diversas causas libertárias, como a da liberdade sexual, da luta contra o preconceito racial e da condenação da guerra, alia-se em Uivo a uma poesia próxima da dicção das ruas e distante da linguagem rebuscada utilizada no gênero até então. A nova edição acrescenta ao poderoso texto do poeta-viajante, que passou por África, Ásia, Europa Oriental e América do Sul, a beleza das imagens criadas por Eric Drooker. O artista plástico nova-iorquino, parceiro de Ginsberg em vida, cria a partir dos versos de Uivo uma narrativa visual que amplia mais ainda as inúmeras possibilidades interpretativas do poema. As ilustrações foram criadas por Drooker para uma animação que faz parte do filme Uivo, de 2010, em que o ator James Franco vive o lendário poeta beatnik. "Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura, famélicos histéricos nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro ao amanhecer na fissura de um pico, hipsters de cabeça feita ardendo pela ancestral conexão celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite". Ginsberg, herdeiro de poetas como Blake, Whitman e Williams, dá mostras, logo no início do poema, da força de uma criação que modificaria os rumos da poesia norte-americana e ecoaria na cultura pop de todo o mundo. Não à toa, Uivo teve influências sobre nomes como Beatles, Jim Morrison e Bob Dylan, e Ginsberg faria ao longo da vida trabalhos com artistas tão distintos quanto The Clash e Philip Glass.