Esta obra, dedicada ao estudo das funções cognitivas e comportamentais do cérebro, reflecte a longa experiência do autor como professor, médico e investigador.Com o objectivo de estimular o estudo desta área de conhecimento, que se encontra em franco desenvolvimento, o autor utiliza uma linguagem muito simples e acessível e um conjunto de imagens riquíssimo, bastante didáctico e pedagógico.Nos quatro primeiros capítulos da obra, é apresentada uma breve revisão histórica descrevendo as diferentes teorias, nomeadamente, a da corrente de pensamento iniciada por Franz Joseph Gall (Viena de Áustria, 1758-1828). O autor introduz também os conceitos de anatomia e fisiologia e as noções de patologia necessários à compreensão dos temas precedentes.Os restantes capítulos abordam matérias de introdução às Neurociências Cognitivas, como sensores, memória, atenção, dominância cerebral, linguagens oral e escrita, apraxias e ainda o papel do hemisfério cerebral direito e as funções dos lobos frontais e do corpo caloso. O último capítulo introduz a questão da consciência.Trata-se, assim, de um livro bastante convidativo à leitura não só para os estudantes dos cursos de Psicologia, Medicina, Filosofia, Reabilitação, Enfermagem e Biologia, como para os professores de Filosofia, de Psicologia e de Biologia do ensino secundário. Também o público curioso em geral pode encontrar nestas páginas matéria de reflexão e interesse.A obra está estruturada em quinze capítulos.Todos os capítulos têm no seu final leituras recomendadas para os leitores que queiram aprofundar os seus conhecimentos.A Herança de Franz Joseph Gall ? Porquê este título?Franz Joseph Gall nasceu em Viena de Áustria em 1758 e faleceu em 1828. Defensor da ideia que a diferentes funções do comportamento humano correspondiam substratos biológicos próprios que se localizavam no cortex cerebral. Criou, assim, o princípio de que havia órgãos diferentes na superfície cerebral responsáveis pelo desempenho de diferentes funções. Representa esta ideia na realidade o início na viragem das concepções funcionais do cérebro. A teoria ventricular que tinha dominado o pensamento caía por terra, e esta ideia, mesmo que explorada de forma criticável, serviu de modelo heurístico aos neurocientistas da época, sendo o que hoje sabemos a continuidade daquilo que então se propunha.Esta corrente de pensamento a que se deu o nome de Frenologia, teve uma inesperada aceitação popular na sua vertente de aplicação prática. Propunham os cultores da Frenologia que o desenvolvimento idiossincrático dos órgãos próprios de cada função, condicionava o desenvolvimento anatómico da região do cérebro correspondente a esse órgão. Este crescimento tornava-se perceptível à palpação do crânio, definindo bossas. As aptidões psicológicas e os traços de personalidade podiam assim ser expostos a uma inspecção cuidadosa de quem soubesse “ler” as bossas. Não comentamos a ingenuidade deste processo, mas não podemos de deixar de salientar a importância que teve para que o público em geral se interessasse pelo comportamento humano e pela função cerebral.Pode, pois, considerar-se que na essência a Frenologia quebrou o conhecimento estabelecido e iniciou uma cadeia contínua que se prolongou até ao conhecimento dos nossos dias. No aproveitamento pragmático da ideia ocorreram excessos que não deixando de ser importantes numa perspectiva de divulgação da ciência, foram na realidade inapropriados prejudicando a virtude da ideia.A Frenologia teve um enorme desenvolvimento primeiro em França, depois no resto da Europa e, através de Spurzheim, discípulo de Gall, nos Estados Unidos da América.