O livro. Ao morrer prematuramente em 2000, aos 61 anos, a escritora inglesa Sarah Caudwell deixou para a eternidade um dos mais curiosos enigmas da história da literatura policial. O andrógeno Hilary Tamar, personagem principal dos quatro romances que escreveu, seria do sexo masculino ou feminino? Ninguém sabe. Talvez Sarah pretendesse revelar esse detalhe algum dia, mas não teve tempo para isso. E o segredo que magistralmente conseguiu sustentar durante 20 anos tempo que levou para publicar seus livros se foi com ela. Para muitos, essa peça que Sarah pregou nos leitores era apenas um pequeno mistério bolado por sua inesgotável criatividade e que conseguiu sustentar em todos os seus livros. Para outros, a brincadeira estava relacionada à sua militância feminista. A elegante figura de Hilary Tamar é uma espécie de alter-ego da autora. Ambos ensinaram Direito em Oxford e trabalharam na investigação de crimes financeiros. O personagem tinha a peculiaridade de contar sempre com a ajuda de seus alunos para, de alguma maneira, resolver os casos. Agora, o público brasileiro vai ter a oportunidade de conferir o talento de Sarah Caudwell no primeiro livro seu a ser publicado em língua portuguesa, A sibila em seu túmulo, com tradução de Bruno Tolentino e selo da Editora Globo. Trata-se da quarta e última aventura de Tamar. Como os episódios são completos e sem continuidade, o leitor não sentirá falta dos anteriores. O livro foi publicado pouco depois da morte da autora e recebeu rasgados elogios. Alguns críticos destacaram sua forma seca, irônica e refinada de escrever e a colocaram como sucessora da também escritora policial Dorothy Sayers.A trama começa com um pedido de ajuda da amiga de Tamar, Julia Larwood. Ela acredita que sua tia, a antiquária Regina Sheldon, e mais dois amigos - o vigário Maurice Dulcimer e a dona de casa e vizinha Griselda Carstairs - se meteram sem querer numa grande enrascada. Não faz muito tempo, os três moradores da pequena Parsons Haver investiram um pequeno ganho inesperado de 1,5 mil libras em ações e ganharam um bom dinheiro, graças às aplicações feitas por Ricky Farnham, um velho conhecido que passara a vida cuidando de fundos de pensão e de investimentos. Depois de quatro operações bem sucedidas na bolsa, eles resolveram parar com o negócio e gastaram o dinheiro em pequenas extravagâncias.O problema surge quando Regina entrega sua declaração de imposto de renda. Como os rendimentos foram movimentados em sua conta, ela tem de pagar três mil libras para o fisco. Só que não dispõe dessa quantia. Enquanto isso, a colega de escritório de Júlia, Selena Jardine, está envolvida com um caso de difícil solução: ela foi chamada para ajudar o presidente de um pequeno banco mercantil que está prestes a se aposentar e desconfia que um dos dois candidatos a substituí-lo pode estar metido num escândalo interno de vazamento de informações confidenciais. Ele não pode pedir uma investigação oficial junto à Bolsa de Valores porque provavelmente o assunto se tornaria público e comprometeria a reputação e os interesses do banco. A única saída é identificar o responsável por outro meio. Só que Selena não sabe como fazer isso. As duas advogadas notam que há uma coincidência entre os dois casos aparentemente isolados: a lista das empresas que parecem ter sido objeto de vazamento de informações são as mesmas cujas ações foram adquiridas pela tia de Júlia. As investigações de Tamar levam a outra conclusão surpreendente: os casos têm outro elo em comum, a morte recente de Isabela Del Comino, uma mistura de médium e vidente, famosa no lugar onde vivia, na companhia da sobrinha, de um bando de corvos e de um abutre. Tudo leva a crer que Selena e seus amigos fizeram parte de uma história de crime financeiro de proporções grandes. E caberá à astúcia de Hilary Tamar investigar esse mistério envolvente.