Os textos apocalípticos exerceram um profundo fascínio no mundo ocidental, em especial no período medieval, seja influenciando grupos de protesto, seja em representações artísticas. Inspirados neles, grupos religiosos esperaram pela vinda dos mil ano s de felicidades paradisíacas sobre a terra e a supressão das estruturas de poder injustas e opressoras. Mesmo os que não tinham expectativas tão concretas especulavam sobre a vinda do Anticristo, das pragas escatológicas e cataclismos que antecederiam o Juízo Final. Em temas apocalípticos é possível identificar temores e desejos recorrentes da cultura ocidental. Na atualidade, devido ao nosso desconforto com a linguagem mítica, os apocalipses antigos e, em especial, o Apocalipse de João, foram relegados ao status de literatura sectária e esotérica. Mas se esgota aqui sua influência no mundo atual? Esta introdução a estes fascinantes escritos propõe uma abordagem que nos permita compreendê-los como narrativas densas de como o mundo, a sociedade e o sagrado (em todos os seus aspectos antagônicos) interagem em tramas dualistas e dramáticas. Também mostrará como a apocalíptica, longe de ser uma criação caprichosa de fanáticos do passado, representa uma importante estrutura de compreensão de mundo de judeus e cristãos na Antiguidade. E que, em alguma medida, continua influenciando, consciente ou inconscientemente, as narrativas da contemporaneidade.