Neste O pior lugar que eu conheço é dentro da minha cabeça, Bortolotto teve a manha de encarar sem medo seu universo pessoal, para dele arrancar um conjunto de poemas comoventes, em que pessoas destruídas pelo tempo/ ainda podem conviver com o perigo/ como velhos tênis/ presos pelos cadarços/ em fios de alta tensão. Se em Um bom lugar pra morrer, de 2010, Bortolotto confessava com falso pudor, e muito humor, sua tristeza, neste livro novo a melancolia já se espalhou por todos os cantos da vida desse homem com um senso de humor muito esquisito, que presta atenção em jardins infestados de formigas argentinas e chora baixinho vendo shows de Linda Ronstadt, numa São Paulo tão fútil quanto violenta, onde Crianças afogam suas inocentes expectativas/ Num lodaçal de sangue, ele se sente velho, sem esperanças, em extinção. No entanto, a espada de Dâmocles não está mais sobre a sua cabeça. Não gozo mais da sorte dos que têm algo a perder, diz em Domingo de Páscoa.