Conheci as Rimas dela na primavera de dois mil e dezessete, ainda antes do nascimento da Vênus, e naquela época os versos já não me pareciam cindidos ao meio, mesmo Marina sendo a poeta concreta concretizada. É verdade que seu eu lírico insistia nas encruzilhadas, nos lados menos claros das estradas, nas brincadeiras arriscadas, nas verdades extravasadas, nas dúvidas, nas tentativas, no amor maiúsculo e, invariavelmente, nos erros. Mas não era possível afastá-lo da mulher-Marina, que era, ao contrário, uma força que só avançava, domando de imediato cada ambiente em que adentrava, preenchendo cada pessoa que conhecia, como é certo que continua a fazer, sempre esvaziada de medos. De volta à estaca zero, re(pensada/imaginada/visitada), as palavras dela também carregam e transmitem esse poder que Marina encerra em si. Porque se o amor se esconde na neblina fina entre a areia e o mar, não é esse o lugar que a poesia da vênus-construída agora habita. [...]