Alegro-me em recomendar-lhes esta bela contribuição de nossa companheira Ana Saldanha que a partir da literatura brasileira e portuguesa nos ajuda a compreender a natureza das realidades agrárias dos dois países. Apesar da formação socioeconômica distinta, em que Portugal foi marcado pelo feudalismo e aqui pela escravidão, seu estudo nos faz compreender a partir da literatura as condições do desenvolvimento dos camponeses, nos dois países. É uma contribuição muito especial à nossa critica literária, que se soma aos esforços de Antonio Candido e Flávio Aguiar. Lembremos, por exemplo, da antologia que ele organizou no livro Com palmos medida: terra, trabalho e conflito na literatura brasileira. A autora conseguiu expressar sua própria condição de militante social e de pesquisadora ao somar a rigorosidade da pesquisa nocampo teórico, que se estrutura a partir do materialismo histórico-dialético, à seleção e análise das obras literárias de diferentes escritores que expressam as lutas sociais no campo, em Portugal e no Brasil. Como escreveu nosso amigo Miguel Urbano em carta à autora, saímos dessas páginas conhecendo não apenas as representações literárias da questão agrária, mas também categorias marxistas trabalhadas pela autora tanto em sua análise das obras quanto na explanação que faz dela no apêndice do livro. Este livro é importantíssimo para toda a militância dos movimentos populares do campo e da cidade, pois recupera a literatura como uma forma de conhecer a realidade da luta de classes e, aqui especificamente, da luta pela terra. Analisando autores clássicos brasileiros como Monteiro Lobato, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, entre outros, e portugueses, estes menos conhecidos para nós mas de fundamental importância para a luta do povo português, como Alves Redol, Manuel da Fonseca e José Saramago, vemos as transformações do campo ao longo da história e também as formas de luta desenvolvidas pelos povos.